Soneto do Amor Caminheiro

Meu amor caminheiro e navegante
que anda no mar, na agulha dos rochedos,
sabe da areia todos os segredos,
comeu terra alumbrado, doravante

é negro, e duro aliás como o diamante.
Fez-se treva até a ponta dos meus dedos.
Mas além dos prazeres e dos medos,
a lua chove sobre o caminhante.

Tua alma me devolve os olhos puros
com que um dia te vi adolescente,
e tua mão apaga a má semente

do sal no rosto nunca enxuto. Os muros
desabam pelo campo. Em seu lugar
há céu limpo, chão de ervas, quieto mar.