Um só o que fora dois

NAZARETH & ODYLO COSTA, FILHO

 

Noiva

Linda, como somente vós sabeis,
forte, como a esperança que em vós ponho,
alegre, como fostes, sois, sereis,
assim vos penso, assim vos recomponho,

curvada embora à vida e às suas leis
mas nunca libertada do meu sonho.
Fostes a noiva na manhã de Reis,
ainda hoje o sois nos versos que componho.

Leio Luís de Camões, o nosso poeta,
a suspirar do amor mais desgraçado
e a maldizer o dia em que nasceu.

Sobrepondo-se à morte e à dor secreta,
o amor feliz, senhora, é o nosso fado,
cantá-lo, a chave do destino meu.

O segredo

Amar foi meu fortíssimo segredo.
Pus meu ofício humilde e bom de poeta
a seu serviço, sem vanglória ou medo,
fiel a essa aspiração secreta.

Cuidei de amor a todos os instantes.
E se acaso me viram descuidado
fingia apenas, como nos semblantes
dos atores o teatro é simulado.

De olhar atento andei pelo mistério:
água de mina para minha sede
e no deserto pão e refrigério.

Neste cair da noite, amigos, vede:
a aleluia infantil nos acompanha,
voz do amor na descida da montanha.

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Apêndice a Notícias de Amor

Hesito antes de editar este volume, onde se incluem, além da escassa produção poética já reunida, sob o mesmo título, em pequena publicação fora do comércio, nos 60 anos do autor, os poucos versos que a vida lhe foi ditando depois deles.

Mais confissão do que meditação, mais sombra de amor feliz do que denúncia dos males do mundo, caberia dar a esta poesia despretensiosa a forma de livro?

Diante dos poemas de Afonso Arinos de Melo Franco, Alphonsus de Guimaraens Filho, Carlos Drummond de Andrade, José Chagas, Luis Veiga Leitão e Marco Aurélio Mello Reis, agrupados em silva poética nas ultimas paginas, e dos que já figuram em volumes de versos de Homero Homem e Tobias Pinheiro, me animo a pensar que sim. Sob a proteção desses altos poetas ponho nas mãos de quem ler este relatório sobre mim mesmo.

E assinalo também a alegria de ver publicada esta lira de velho ao mesmo tempo que “A Casa”, de Marcio Tavares d’Amaral e “A Roseira e o Mato”, de Virgílio Costa. Em ambos ponho minha bênção paterna e minha esperança de companheiro.

OC,f

Ao leitor

Vejo-me aqui tão repetido! 
E eu me quisera sempre novo,
embora se repita a vida, 
repitam-se as canções do povo. 

Mas quando a imagem se repete, 
o amor perde a graça do novo. 
Quero fazer do meu eterno 
para servir de exemplo ao povo. 

Se a vida foi tão repetida, 
a ponto de não ter mais novo 
sentido, o amor se refugie 
nas canções antigas do povo. 

Que há sempre nelas um sentido
de cantiga de roda, novo 
porque cantado pelas vozes puras 
dos meninos do povo. 

E por mais antigas que sejam 
e repetidas, sempre é novo 
o olhar que inventa um novo mundo 
nas canções antigas do povo. 

Pueril, o hosana que descobre 
o mundo velho — de olho novo — 
faz eterna, nas vozes novas, 
a mais velha canção do povo. 

Para que a imagem repetida 
não lhe tire a graça do novo, 
farei do meu amor eterno 
como os velhos cantos do povo. 

Espero em Deus que assim se faça, 
pois, em seu reino sempre novo, 
sua vontade, que aceitamos, 
foi pão nosso — como o do povo.

Dedicatória

Tanto quisestes ter um filho poeta! 
E que esse filho fosse eu, pedia, 
apontando o mais velho, uma secreta
aspiração, quase uma profecia… 

Bem cedo me perdi na busca inquieta 
dos caminhos mas sempre a poesia
foi para mim patética e incompleta, 
desajeitada agora, agora fria. 

Veio depois a vida e mergulhou 
a minha alma na grande dor severa, 
barco afogado em rio adormecido. 

Do sofrimento o verso rebentou. 
Antes, meu Pai e minha Mãe, quisera 
que esse verso jamais fora nascido. 

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