Soneto de N. S.a do Bom Parto

A adolescente era a palmeira esguia
de tranças. Mas no mel do seu cabelo
tal mistério morava que de vê-lo
a alma desesperada renascia.

Era a Beleza? A simples alegria?
Era a presença do sutil desvelo?
Era a graça, era o corpo, era a poesia?
Era a saudade do materno zelo?

Era a esperança, a fé, a caridade?
Impossível dizê-lo com certeza.
Mas nela havia tanta eternidade

que pôs Nossa Senhora do Bom Parto
nove bocas em torno à nossa mesa
e uma sombra perene em nosso quarto.

Soneto do Amor Teimoso

Amo-te hoje do mesmo amor teimoso
daquele dia em que te vi primeiro
e se te amei desde o primeiro instante
hei de te amar até o derradeiro.

Somam-se em mim para te amar a vida
e a morte: nem jamais eu suspeitara
que do capricho pela adolescente
viesse esta força indefinida e rara.

Amor feito resina, porque chora,
calado como as coisas, como o chão,
mas capaz de irromper — estranha lava —

numa festa de flor, só flor, mais nada,
cobrindo o tronco velho e os galhos secos
como as quaresmas que teu filho amava.